“A relação Brasil-Japão ganha nova dimensão”, diz Lula

Em visita oficial ao Japão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que “a relação entre Brasil e Japão mudou de patamar”. A declaração foi feita nesta quarta-feira (26) em Tóquio, após encontro bilateral com o primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, que resultou na assinatura de dez acordos governamentais e cerca de 80 instrumentos de cooperação entre instituições públicas e privadas.

A nova etapa nas relações entre os dois países foi marcada por compromissos firmados em diversas áreas, como ciência, tecnologia, comércio, meio ambiente, aviação, educação e agricultura. Um dos principais avanços foi a decisão de que os chefes de Estado dos dois países se encontrarão a cada dois anos, como sinal da “ambição” de aprofundar a parceria.

“Assinamos dez acordos com o governo japonês. Outros 80 instrumentos de cooperação foram firmados por entidades subnacionais, universidades, institutos de pesquisa e empresas”, declarou Lula, ressaltando que o volume atual do comércio bilateral, de US$ 11 bilhões, está aquém do potencial das duas economias. “Nossa meta é superar os 17 bilhões de dólares registrados em 2011”, afirmou.

O fórum empresarial promovido em Tóquio também rendeu resultados. Lula destacou a negociação entre a Embraer e a All Nippon Airways (ANA), maior companhia aérea japonesa, para a venda de 15 aeronaves, com possibilidade de compra de outras cinco. O contrato pode movimentar até R$ 10 bilhões. “A compra de aeronaves da Embraer por empresas japonesas demonstra a capacidade de nossa indústria”, pontuou o presidente.

Durante a coletiva, Shigeru Ishiba reafirmou o interesse do Japão em expandir suas relações com o Mercosul e intensificar colaborações em áreas estratégicas como biocombustíveis, preservação ambiental e segurança alimentar. “A relação econômica, comercial e de investimentos entre Japão e Brasil possui um grande potencial. Hoje, os dois países se tornaram parceiros globais e estratégicos, que compartilham valores e princípios e trabalham juntos no cenário internacional”, afirmou.

Outro destaque foi o compromisso do Japão com a agenda climática, com o país asiático anunciando a contribuição de US$ 5 milhões para o Fundo de Resposta Climática e sua entrada como primeiro do continente a investir no Fundo Amazônia. Lula saudou a decisão e reforçou o compromisso ambiental brasileiro: “O Japão e o Brasil seguirão trabalhando juntos em medidas de mitigação e adaptação à mudança do clima, combate ao desmatamento e prevenção de desastres naturais”.

O presidente brasileiro também convocou líderes mundiais a unirem esforços em defesa do clima. “A NDC brasileira reduz até 2035 as emissões de gases de efeito estufa de 59% a 67% em comparação aos níveis de 2005. O primeiro-ministro e eu concordamos que a sustentabilidade, a paz e a democracia são essenciais para o futuro do planeta”, declarou Lula.

No campo diplomático, Lula ressaltou a importância do multilateralismo em um momento de crescente tensão internacional. “O extremismo, o discurso do ódio e as notícias falsas solapam instituições e fomentam a intolerância. 2025 será um ano-chave para o multilateralismo. Precisamos nos unir em torno dos interesses comuns da humanidade”, disse.

O presidente também celebrou a adesão do Japão à Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, iniciativa lançada pelo Brasil durante a Cúpula do G20, realizada no Rio de Janeiro, em 2024.

As trocas comerciais entre os dois países seguem pautadas por produtos como carne de aves, alumínio, celulose, café e minério de ferro, por parte do Brasil, e peças automotivas, motores e equipamentos industriais por parte do Japão. Em 2023, o superávit brasileiro na balança comercial com o país asiático foi de US$ 146,8 milhões.

A visita de Lula também tem forte valor simbólico: em 2025, Brasil e Japão celebrarão 130 anos de relações diplomáticas. O Brasil abriga a maior comunidade nipodescendente do mundo, estimada em mais de 2 milhões de pessoas, enquanto o Japão é lar da quinta maior comunidade brasileira no exterior, com cerca de 210 mil residentes.

Participaram da cerimônia de assinatura dos acordos os ministros Mauro Vieira (Relações Exteriores), Marina Silva (Meio Ambiente), Camilo Santana (Educação), Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos), Alexandre Silveira (Minas e Energia), Luciana Santos (Ciência e Tecnologia), Carlos Fávaro (Agricultura), Juscelino Filho (Comunicações), Waldez Góes (Integração) e o secretário-executivo Márcio Rosa (MDIC), além dos presidentes do Senado, Davi Alcolumbre, e da Câmara dos Deputados, Hugo Motta.

Foto: Ricardo Stuckert

Reprodução/Brasil 247